Crônicas: Marcos Souto Maior



REPÚBLICA PROCLAMADA 

MARCOS SOUTO MAIOR (*)
Nosso país tem tantos feriados, dias santos e os famosos “pontos facultativos” que figura entre as nações que mais prestigiam o ócio remunerado.
Hoje, por exemplo, temos o dia em que se festeja a proclamação da República ocorrida nos idos de 1889, sob a batuta do marechal Deodoro da Fonseca, em meio a um levante político-militar despojando D. Pedro II e a sua monarquia constitucional parlamentarista.
Naquela época, os republicanos eram, em grande número, pertencentes à Maçonaria, entidade secular que trabalhava em segredo e, conflitante com a Igreja católica. Estas instituições ainda se mantêm em todo o mundo apesar do nítido declínio do poderio de então.
Apesar de pouco consultada nossa história também registra os reflexos decorrentes da Lei Áurea (1888) com os negros que lutaram na guerra do Paraguai sendo libertos e, seus ex-patrões não receberam as indenizações de praxe, terminando por aderirem ao movimento republicano.
Tanto assim que, João Maurício Wanderley, Barão de Cotegipe, único senador que votou contra a abolição da escravatura, foi duríssimo com a princesa Isabel ao profetizar: “a senhora acabou de redimir uma raça e perder o trono!”
As interpretações do movimento republicano brasileiro demonstram que o “levante político-militar” fora tranqüilo e sem disparo de um único tiro. Quando muito umas poucas prisões, chegando ao ponto do jornalista e grande líder republicano Aristides Lobo ter classificado o sentimento nacional na seguinte frase, curta e grossa: “... o povo assistiu bestializado”, referindo-se à decretação monárquica.
Pois bem, o povo acomodado gostou da idéia republicana e até hoje comemora como mais um dia em que não se trabalha.
Nada contra o aniversário da proclamação da República, porém, contra o exagero de tantos dias sem trabalho no setor público quanto no privado.
Se alguém desejar fazer pesquisa acerca do conhecimento do povo brasileiro, com esta e outras datas de feriados nacionais, é previsível que a esmagadora maioria não saberá responder o que aconteceu em 15 de novembro de 1889.
A educação dos jovens brasileiros há décadas que não oferece o devido conhecimento histórico, como se o passado tivesse sido apagado por ser algo desprezível.
Triste do país que não tem resguardada e difundida a sua história!
O Ministério da Educação, encalacrado com escândalos sobre o ENEN, além do ministro Fernando Haddad se debruçando na preocupação priorizada com sua campanha à prefeitura de São Paulo, fica sem tempo e espaço para impor uma pequena dose de civismo aos jovens destes dias.
Penso que, por estas e outras razões fundadas, não temos mesmo o que comemorar neste dia, porque a proclamação da República, pura e simplesmente, foi um marco histórico que desapareceu da memória dos brasileiros.
Então, vamos para a praia pegar um sol de verão, sentar num banquinho de bar à beira mar e curtir a vida despreocupada! Ou ainda juntar a família toda e se instalar num shopping center onde tem comida, bebida, jogos, cinema, compras e outras diversões.
Outra opção seria aproveitar o feriado nacional para colocar em dia a contabilidade familiar, fazer serviços domésticos ou ainda, visitar parentes distantes e amigos de que não se encontram há anos.
Nossa República cheia de escândalos como do “mensalão” e as devassas em ministérios do governo Dilma, é uma caixa de surpresas e desencontros.
Entretanto, fazer o que? É dar VIVA A REPÚBLICA! Mesmo sem se saber o que isto significa para nosso Brasil.
(*) Advogado e desembargador aposentado. 




MINHAS NUVENS
                                                                                    

  MARCOS SOUTO MAIOR (*)
                                   Nesses tempos de verão antecipado com muito sol e calor, na “laje” onde moro, peguei o aguador, enchi d’água e derramei no confortável jarro que recepcionei um pé de nuvens, plantinha sensível que exige os cuidados diários.
                                   Aliás, minha espontânea adoção da planta escolhida, lhe isentou dos fatores asfixiantes que ameaçam os homens, animais e florestas gerados pelo aquecimento criminoso do nosso planeta. Realidade dependente do homem com previsível e desastroso final, num futuro um pouco distante.
                                   Cheguei a ficar preocupado quando galhos e folhas secas desfizeram os lindos buquês da florzinha azul claro.
                                   As plantas, diferente dos animais, são passivas e o único sinal de desespero pela falta de cuidados é o murchar das flores, folhas, galhos e tronco em sinal anunciando o fim.
                                   Já disse um pensador que “as flores não falam” e por isso devemos manter um diálogo mudo na retribuição à beleza natural derramando em seu corpo desnudo, a água pura que alimenta.
                                   A mãe natureza é pródiga na benignidade da proteção às flores com chuvas passageiras caindo sobre a terra adubando a vida vegetal com belos ornamentos que decorrem do trinômio talo, folhas e flores. Então, minha plantinha tem, sim, o meu cuidado cotidiano para complementar o que a natureza nos dá.
                                   Como nós, as plantas também envelhecem deixando os troncos engordarem demais a ponto de estourar suas cascas. As raízes agonizantes se multiplicam gerando novos filhotes que rasgam o seio da terra na ocupação de um novo e independente lugar. Logo acontece a alegre recomposição natural para gerar novos ramalhetes.
E assim a cada novo galho gerado pontilhado de folhas em forma de moldura logo pede espaço ao mundo para belos e delicados buquês.
                                   Pergunto-me: como fui me apaixonar pelas nuvens cuja beleza se exaure na delicadeza de suas pétalas, com duração efêmera? Sim, porque sem permitir qualquer competição entre as flores, tenho consciência da exuberante beleza das rosas e tulipas, da majestade das orquídeas e do perfume inebriante da angélica, o que não me afastou das frágeis florzinhas azuis claro.
                                   Paro de escrever por alguns segundos e me viro para a visão privilegiada da minha “laje”. Vejo o céu mostrar na sua imensidão a doce convivência com nuvens carregadas desfilando lépidas e fagueiras e determinadas a ocupar o céu.
Até que tentam, contudo, em vão! As camadas de nuvens soltas vagam pelos céus e falecem de resistência para se deixar decompor. E a chuva cai como bênção celestial sobre a terra e seus habitantes plantando a fertilidade natural. São as nuvens encontrando as nuvens...!
Para quem tem a sensibilidade de perceber a natureza, o vento e as nuvens encenam um balé romântico acariciando-as e fazendo percorrerem lugares variados, até se perder de vista.
                                   Já a plantinha não consegue segurar a flor por muito tempo deixando-a voar cadenciadamente e jogando o pólen para fecundar novas flores na explosão natural da vida vegetal deixando ao vento os fragmentos das nuvens desgarradas dos galhos.
                                   O sentimento de quem cultiva flores é exemplo de sublime amor que acontece no surgimento de cada florzinha, tal qual um toque de bela magia natural.
                                   A certeza que tenho é que as flores se desmancham ao sabor dos ventos, nessa metamorfose ambulante da vida vegetal, nos ensinando pela convivência diária dos fabulosos espetáculos que desafiam à imaginação.
                                                                   (*) Advogado e desembargador aposentado